Follow Friday – The Other Tribe

Publicado originalmente em 21/12/2012 @ MyCool

Ahoy! Falo aqui diretamente do meu bunker subterrâneo AINDA esperando pelo tal do fim do mundo, cujos sinais pararam nas chuvas torrenciais, no calor apocalíptico e nas conquistas internacionais do Curintia.

Enquanto os Illuminatis, ou os extraterrestres – ou os Illuminatis extraterrestres – não executam the end of the world as we know it, trago mais uma aposta em banda nova se é que vocês ainda tem saco pra isso na última Follow Friday de 2012 [e quiçá da história da humanidade]: The Other Tribe.

Os caras são de Bristol, não fazem absolutamente nada de diferente – aquela coisa mezzo indie, mezzo house, às vezes raver, com percussão afro e vocais afeminados –, mas o fazem com competência suficiente pra te dar vontade de colocar no repeat. Além disso, foram eleitos A BANDA AO VIVO MAIS BONITA DA CIDADE, graças aos shows em que emulam um DJ set ao “mixar” todo o repertório.

Eles também se fantasiam a caráter – alô zeitgeist! – e são muito mais divertidos que aquela outra tribo que deixou o mundo inteiro na expectativa por milhares de anos e no fim era tudo balela. #FORAMAIAS

Discos do ano – fIN

Publicado originalmente em 18/12/2012 @ MyCool

Produzido pelo produtor catalão John Talabot – que se apresentou no Sonar SP em 2012 e cujo nome verdadeiro desconhecemos –, fIN (Permanent Vacation, 2012) se trata de um daqueles discos de uma música eletrônica não tão orientada para as dancefloors – mas que nada impede que possa gerar hinos das pistas, pelo menos pra quem estiver louco da pedra.

Talabot, como qualquer artista talentoso que não é empurrado mercadologicamente goela abaixo da blogosfera [cofcoflanadelreycofcof], teve sua ascensão de forma progressiva e natural, colhendo um burburinho ali em 2009, um hitzinho acolá em 2010, e atingindo um puta de um status agora em 2012 – tudo graças a fIN.

O som do debute do barcelonense – que, podes crer, tem influência direta do Mediterrâneo – namora a música eletrônica experimental/IDM, o ambient e até um pouco de psicodelia, mas também não deixa de flertar com a house music/balearic/disco, trazendo em vários momentos – principalmente nos “hits” Destiny, Last Land e When The Past Was Present – uma boa dose de groovezinho-ensolarado-legal-pra-lounge-ou-pra-abrir-uma-pista. Só que, se o house e a disco não raramente estão associados a elementos tropicais – praia, palmeiras, piscina, gente rica e mulher pelada –, o tropicalismo promovido por Talabot é mais sombrio, denso, carregado em textura. O que temos em fIN não é uma Riviera Francesa ou uma piscina de luxo em uma mansão na California, mas sim uma selva, que por vezes pode te levar a territórios ásperos e desconhecidos.

Tudo em fIN carrega a imagem pantanosa da selva e, como toda selva que se preze, pode parecer hostil ou desconfortável pros desavisados. Aos ~desbravadores~, porém, é um convite bastante tentador, principalmente pelo fato de ser uma obra muito bem delineada, com começo meio e fIN [RISOS]. A introdução de 7 minutos, Depak Ine, deixa os sinais bastante claros – inclusive escancarando o imaginário em questão através de sons de sapos, macacos, corujas e insetos. Temos, portanto, um dos registros mais coesos e interessantes de 2012 – pelo menos pra quem tiver “coragem” e “estrada”. Só vê se não me esquece do repelente pra insetos, de um kit de primeiros socorros e, se possível, do Indiana Jones pra desbravar a bagaça.

Disco: fIN

Artista: John Talabot

Lançado em: 14 de fevereiro de 2012

Selo: Permanent Vacation

Melhores faixas: Depak Ine, Destiny, Missing You, Last Land, Estiu, When the Past Was Present e So Will Be Now

Quando não ouvir: Na hora de ajeitar as pelanca na academia.

Quando ouvir: Bastante adequado pra momentos de introspecção no quarto, na rua e também pra pirar com teus amigos doidões.

Pra quem gosta de: Lone, Caribou/Daphni, Bonobo, Burial, Yeasayer e Delorean.

Discos do ano – Attack on Memory

Publicado originalmente em 12/12/2012 @ MyCool

O Cloud Nothings é uma das poucas bandas de rock que fez um disco que curti nesse ano [mas não precisa querer me matar, pra resenhar discos de rock temos o Vignoli]. E isso levando em conta que o segundo álbum do projeto do jovem-ainda Dylan Baldi, Attack on Memory (CARPARK, 2012), leva uma penca de elementos que não me agradam esteticamente: vocais rasgados/gritados, crueza e sujeira – cruuuuuzes, uma garageira dos inferno –, só pra mencionar os principais. As referências do cara, basicamente enraizadas no punk e no rock alternativo dos anos 1990, também não são ~minha xícara de chá~.

Mesmo com tudo contra, a obra é tão carregada de verdade e substância que conseguiu atrair um cara que está cada vez mais imerso no maravilhozzo mundo da música eletrônica [caso você não tenha sacado, sou eu]. Em compensação, a estética dominante da metade final da última década que curtimos tanto – na qual bandas cansaram de misturar sintetizadores com um rock espertinho e “limpo” – já deu o que tinha que dar. Há quem ainda insista na fórmula datada, vendendo algo que soe “o que o indie supostamente é” por oportunismo mercadológico ou por falta de criatividade. E esse talvez tenha sido um dos principais trunfos de Baldi por aqui: o sopro de ar fresco que traz algo diferente do que ouvimos por tantos anos até enjoar; uma autenticidade REALMENTE autêntica.

Sim, os 90’s definitivamente estão de volta, seja no rock, na música eletrônica, na moda e nos manuais de instruções das boybands. O revivalismo do grunge já é uma realidade, assim como o da rave, e gostando ou não, são artistas como o Cloud Nothings e suas referências pré-Nirvanicas e pós-hardcorianas que podem “liderar”, com tantos outros, um novo padrão artístico daqui pra frente.

Fazem-se presentes no álbum o pessimismo, a dor, as distorções “barulhentas”, o [auto] desprezo, a rebelião adolescente [mesmo que amadurecida] e fatores que significam hoje a negação do indie: testosterona, agressividade, visceralidade, desleixo, rudimentariedade e o protagonismo das guitarras; tudo muito bem delineado pela excelente produção de Steve Albini. Por baixo de todo esse niilismo farpado, as melodias, as CANÇÕES estão lá, fazendo dos 33 minutos em oito faixas de Attack on Memory uma desgraceira das boas – gritante, crua e viva, como se seu protagonista tivesse se cortado todo pra provar que, de artificial, ele não tem nada.

Agora deixem eu voltar pros meus discos do Elton John que esses rock aí são tudo coisa de veado.

Disco: Attack on Memory

Artista: Cloud Nothings

Lançado em: 24 de janeiro de 2012

Selo: Carpark

Produtor: Steve Albini

Melhores faixas: Wasted Days, Stay Useless, Separation e Cut You.

Quando não ouvir: Quando estiver visitando a vovó.

Quando ouvir: Quando você estiver fodido, desempregado, sem futuro e com seu time na merda.

Pra quem gosta de: Japandroids, Fucked Up, Yuck, Nirvana, Sonic Youth e Fugazi.

Discos do ano – Trouble

Publicado originalmente em 04/12/2012 @ MyCool

Dezembro-sol-suor-e-bundas já está no ar e, como não poderia deixar de ser, chega aquele período da vida em que ninguém tem saco pra produzir mais nada, então nos limitamos às retrospectivas de tudo o que já aconteceu pra parecer que vivemos um ano muito importante e cheio de coisas ~excitantes~.

Também somos Maria-vai-com-as-outras [há quanto tempo não escutava essa hein?]  e entramos nessa onda, apresentando os discos mais tranzudos de 2012 na avaliação da casa. Alguns já foram resenhados por aqui, e no fim vamos juntar tudo em uma linda lista. Sigam-me os bons!

Pra começar a função, eu não poderia escolher outro disco. Trouble (POLYDOR, 2012), debute do Totally Enormous Extinct Dinosaurs, foi um disco razoavelmente bem aceito pelos críticos ao redor do planeta, conquistando respeito e um lugar ao sol. Não conseguiu um destaque maior porque se trata de uma obra de dance music, o que pra muita gente é taxado como “menos importante”. No meu S2, contudo, ele é o número um. O impacto que me causou se compara ao que os dois primeiros discos do Bloc Party fizeram comigo. Isto é, GIGANTESCAMENTE importante.

Consistente do início ao fim – como há muito tempo eu não via um disco ser –, não existem tracks medíocres, mas sim duas [sim, SÓ DUAS] dispensáveis. À exceção de Promisses e Shimmer, justamente primeira e terceira faixa, as músicas restantes não deixam a peteca cair em momento algum. E se a primeira metade é empolgante, a reta final – de Tapes & Money até Stronger – é o ápice da parada toda. Nada mal pra uma época em que 97% dos álbuns têm no máximo três ou quatro músicas realmente boas.

Como vinha martelando aqui desde 2011, o TEED era minha principal aposta na nova música – esperança essa que foi mais do que correspondida. Com uma identidade visual marcante, um conceito amplo bem trabalhado e uma música que mistura vertentes do house, techno, bass e synth pop revestidos por uma sensibilidade indie, nosso amigo Orlando Higginbottom conseguiu desenhar um resultado final bem autoral e que consegue ser tão brilhante quanto acessível. Isto talvez se justifique pelo foco em duas frentes: primeiro, o desafio de lutar contra a obsolescência da dance music – em que produtores lançam discos e faixas com data de validade marcada em seus encartes – e, em segundo, a forte presença de uma melodia bem trabalhada, outra carência presente na EDM atual.

Assim, Orlando conseguiu produzir uma obra marcante, dançante, profunda, bela e de forte apelo emocional, por mais despretensioso que seja o seu discurso. Porque pra alguém que diz que só quer que as pessoas se divirtam, o Totally Enormous Extinct Dinosaurs conseguiu muito mais do que isso.

Disco: Trouble

Artista: Totally Enormous Extinct Dinosaurs

Lançado em: 11 de junho de 2012

Selo: Polydor Records

Melhores faixas: Trouble, Household Goods, Your Love, Panpipes, Garden, Solo, Tapes & Money, American Dream pt. II, Closer, Fair, Stronger. É, na real, escuta o disco todo, vai!

Quando não ouvir: Antes de dormir.

Quando ouvir: Sempre.

Pra quem gosta de: Daft Punk, Disclosure, SBTRKT, Bag Raiders e Hot Chip

Fazendo música do CSS melhor do que o CSS

Publicado originalmente em 27/11/2012 @ MyCool

CSS, também conhecida como Cansei de Ser Sexy, é uma banda paulista que fez um primeiro álbum muito foda em 2005 – no tempo de ebulição daquilo que conhecíamos como indie –, ganhou um hype desgraçado [e merecido] na gringa, fez um segundo disco legal – mas que não foi bem aceito pela crítica – e, desde então, foi caindo pouco a pouco em desgraça.

Adriano Cintra, o mancebo entre tantas raparigas, descobriu-se mais tarde, era o motor da banda. Na verdade, ele era a banda. E se você acompanhou um pouco da merda toda jogada por ele no ventilador pra contar porque saiu do grupo, no fim do ano passado, dá pra entender porque o CSS caiu tanto nos últimos anos.

Sem Cintra, o que sobra do Canseide é um grupo de meninas que não sabem compor, não sabem produzir e mal sabem tocar, se preocupando mais em manter a pose de rockstar [rimou]. É mais ou menos como o Internacional de Porto Alegre se encontra hoje: um grupo de estrelinhas deslumbradas ganhando milhões e sem vontade nenhuma de jogar bola [perdoem minhas comparações futebolísticas].

O erro de Adriano foi ter tido paciência demais, ter esperado tanto pra pular fora da nau. Não que isso tenha causado grandes problemas a ele, que hoje está livre, alegre e solto com Marina Gasolina em seu Madrid. E, se alguém duvidava que as acusações do cara fossem infundadas, a mais nova música do CSS – a primeira sem Adriano – é a prova final de que ele tinha razão. I’ve Seen You Drunk Gurl é uma das piores tracks que a blogosfera nos trouxe em 2012, queimando o nosso amigo David Sitek, que entrou numa roubada.

Nem tudo está perdido. Se Adriano Cintra provou alguma coisa, é de que ele é capaz de fazer música do CSS muito melhor do que o CSS. Sente o esculacho:

* Bonus: um remember saudosista

Alan Moore: cartunista, romancista, cantor, modelo e atriz

Publicado originalmente em 06/11/2012 @ MyCool

Nunca pensei que fosse fazer aqui um post sobre Alan Moore, ainda mais dando aquela cornetada/zoada básica, já que eu admiro demais esse cara e Watchmen mudou minha vida.

Me surpreendi quando vi que, além de escritor/cartunista genial, artista revolucionário e idealizador de um mundo mais humano, o cara resolveu se aventurar como homem multimídia. Além de estar prestes a lançar os primeiros filmes de sua autoria, Moore ganhou destaque ontem por “atacar de músico”.

The Decline of English Murder – bem Alan Moore esse nome – é o primeiro single do mestre, que também já havia se aventurado brevemente com uma banda nos anos 1980. A narrativa melódica construída por Joe Brown serve de base para Moore cantar-não-cantando, à lá Leonard Cohen.

É notável que música não seja a especialidade do nosso amigo Alan, mas a qualidade relativa da canção se torna menos importante quando se põe em contexto a importância do evento. Lançada via Occupation Records no dia 05 de novembro – o Dia D em V de Vingança, uma de suas mais famosas obras – The Decline of English Murder é dedicada e tem suas rendas revertidas ao movimento global Occupy. Lembrando que os movimentos Occupy e Anonymous se apropriaram da máscara de Guy Fawkes, do mesmo V de Vingança, para alegria e orgulho de seu criador. E vejam só, tudo isso um dia antes das eleições nos USA.

Portanto, por mais que eu veja artistas multimídia com desconfiança, o senhor Moore ainda tem muito crédito. A música sempre teve papel fundamental para a revolução, e ele sabe muito bem disso. Longe de ser uma jogada oportunista, it’s all about revolution. Ficaremos de olho na estreia cinematográfica.

Testando novamente aquela velha teoria sobre o Radiohead

Publicado originalmente em 30/10/2012 @ MyCool

A história não é lá muito nova, mas tem uma galera que ainda não conhece, e falar de Radiohead nunca é demais – até porque, este mês marcou os cinco anos de lançamento do In Rainbows (self-released, 2007), co-protagonista deste post.

O fato é que, um tempo depois que o In Rainbows foi lançado, o blog Puddlegum lançou a teoria de que o OK Computer e o In Rainbows seriam discos complementares. Tudo começou com pistas indicando algo com o número dez: o lançamento do In Rainbows – cujo nome tem dez letras, pra tristeza do Zagalo – se deu dez anos depois do OK Computer (Parlophone, 1997) – dez letras também –, em 10/10, dez dias antes do que fora anunciado; o álbum contém dez faixas, e poderia ter sido baixado a partir de dez servidores; além disso, antes do lançamento, dez enigmas foram divulgados enfatizando a letra ‘X’, o que corresponde a dez em algarismos romanos.

A partir daí, o Puddlegum veio com a teoria dos códigos binários – 1010101010 –, o que os fez serem contatados por um suposto amigo do Thom Yorke que confirmou que eles estavam lendo as pistas corretamente. Dez dias depois, o blog concluiu que o OK Computer – que quase se chamou Zeros and Ones  – corresponderia ao 01, enquanto o In Rainbows seria o 10 – números complementares no código binário. Assim, ouvindo os dois álbuns entrelaçados, intercalando sucessivamente uma do OK Computer com a faixa de número correspondente do In Rainbows, fica a sensação de que o disco de 2007 foi pensado para combinar harmonicamente, estruturalmente e textualmente com seu ancestral.

Fiz essa experiência uns anos atrás e não fiquei completamente convencido, embora tivesse percebido que podia haver, sim, algo premeditado nisso tudo. Hoje, ouvindo com crossfading na transição entre as músicas (em um vídeo no youtube que encontrei no Trabalho Sujo), tudo fez muito mais sentido. Dá pra ver que existe uma continuidade, uma unidade que casa os dois discos – principalmente depois dos primeiros vinte minutos. Não raramente o encaixe chega a ser perfeito, como por exemplo o reverb da saída de Subterranean Homesick Alien para a entrada de Nude, ou a transição entre Fitter Happier e Faust Arp.

Pra conferir, ou testar de novo, basta apertar o play aí embaixo e tirar suas próprias conclusões.

A tracklist, na lógica correta, fica assim:

1. Airbag (OK Computer)
2. 15 Step (In Rainbows)
3. Paranoid Android (OK Computer)
4. Bodysnatchers (In Rainbows)
5. Subterranean Homesick Alien (OK Computer)
6. Nude (In Rainbows)
7. Exit Music (For A Film) (OK Computer)
8. Weird Fishes/Arpeggi (In Rainbows)
9. Let Down (OK Computer)
10. All I Need (In Rainbows)
11. Karma Police (OK Computer)
12. Fitter Happier (OK Computer)
13. Faust Arp (In Rainbows)
14. Electioneering (OK Computer)
15. Reckoner (In Rainbows)
16. Climbing Up The Walls (OK Computer)
17. House Of Cards (In Rainbows)
18. No Surprises (OK Computer)
19. Jigsaw Falling Into Place (In Rainbows)
20. Lucky (OK Computer)
21. Videotape (In Rainbows)
22. The Tourist (OK Computer)

* Que será que o Radiohead vai aprontar em 2017?

** Comentário mais genial que já vi no youtube: “Combination Super Work é um anagrama para In Rainbows/OK Computer”.

MyCool investiga: Azealia Banks vs. Munchi – o barraco

Publicado originalmente em 03/10/2012 @ MyCool

Seja pra ganhar mídia, fazer média ou ser escroto, os artistas adoram um barraco pelas redes sociais da vida. E como os fãs são chegados numa novela, esse tipo de embate costuma gerar bastante repercussão – sejam eles entre artistas do mainstream ou não.

A birra da vez corresponde à semana passada, quando a mais nova hype do rap Azealia Banks e sua equipe foram irresponsáveis, gerando uma polêmica gigantesca com o produtor holandês Munchi. A maioria dos blogs daqui não tocou no assunto, enquanto veículos da mídia internacional distorceram os fatos. Como o MyCool é pratcament um Jorge Kajuru da blogosfera – sem rabo preso e sempre de pinto duro –, fomos atrás da verdade.

O lance é o seguinte: todos os singles lançados pela Azealia até agora são raps em que ela canta sobre faixas instrumentais de outros produtores, sem edições. 212, por exemplo, é simplesmente a faixa Float My Boat, de Lazy Jay, com os vocais da garota.

As 19 tracks presentes na mixtape Fantasea também seguem essa lógica: o produtor Diplo ajudou a selecionar músicas de diversos outros caras para que Banks rapeasse por cima. Muita gente tem chamado isso de samplear, quando na verdade samples são determinadas partes de uma track utilizadas em prol de uma nova criação. Não é o caso.

Ainda assim, nenhum problema ético por enquanto; a mixtape não foi comercializada, enquanto os singles lançados por Banks tiveram autorização mais os devidos créditos e remuneração aos produtores originais.

O problema inicia quando começam divulgações para o lançamento de um novo single de Azealia: Esta Noche, track presente em Fantasea. Esta Noche foi produzida há uns dois anos por Munchi, que não a lançou comercialmente por respeito a Montell Jordan, de quem tirou samples – agora sim – para compô-la. Quando Azealia usou Esta Noche em Fantasea, não houve polêmica. No entanto, quando anunciada como novo single, pra ser comercializada no iTunes, inclusive com capa pronta e tudo o mais e SEM o consentimento de Munchi, o bicho começou a pegar.

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Munchi esperneou e não autorizou o lançamento. As gravadoras Polydor e Interscope, representantes de Banks, perceberam a cagada e tentaram negociar, oferecendo até 50 mil dólares e um pedido formal de desculpas. Munchi não aceitou, principalmente, pelo modo como a garota conduziu a situação, o culpando por emperrar o lançamento do single. O holandês permaneceu irredutível a qualquer proposta, alegando ter sido muito desrespeitado no episódio, e que sua integridade não estava à venda.

Bonito saber que no século XXI ainda tem artista que valoriza coisas como integridade e amor-próprio. O rapaz declarou que é normal no ramo as pessoas serem fodidas o tempo todo e não falarem nada por medo ou por grana, então é admirável também a sua coragem.

Quanto a Azealia, o som dela é bom pra caramba, o hype não é em vão e as tracks escolhidas pros seus raps são de alto nível. Porém, se revelou uma garotinha mimada e imatura [pra não dizer, como já foi dito, escrota]. Toda a estrutura milionária que gere sua carreira falhou, e o tiro saiu pela culatra. Porém, depois de algumas graninhas aqui e ali pra distorcer os fatos na mídia, Azealia e seu staff lançaram como single, no lugar de Esta Noche, Luxury – outra track de Fantasea, de autoria do produtor Machinedrum.

Assim, Munchi com seus valores, Azealia com o seu hype e Kajuru com seu pênis inabalável viveram felizes para sempre.

Moral da história:

* Para mais informações, leia o esclarecimento de Munchi aqui.

Disco do Mês: The 2 Bears – Be Strong

Publicado originalmente em 29/02/2012 @ MyCool

A gente segue vivendo o fim desse ciclo do Indie Rock [as we know it] e pode ir percebendo a erosão que a música independente vem sofrendo, até chegar o ponto em que uma nova cena se estabeleça do underground pro mainstream [ciclo natural da vida]. O que já da pra reparar é que os olhares de boa parte dos fãs, críticos e artistas do gênero – que na última década acompanharam desde o nascimento dos Strokes até a conquista do Grammy pelo Arcade Fire – têm se voltado pra outras vertentes, como Dubstep, Nu Disco, Hip Hop ou revivalismos garageiros.

O disco “Be Strong”, do duo The 2 Bears – formado por Joe Goddard, do Hot Chip, e Raf Rundell –  é um bom exemplo do que podemos chamar de Indie House. Um resgate ao House tradicional, porém combinado com outras vertentes de Dance Music e até com pequenas parcelas de gêneros acústicos, como o Folk. Não que eles sejam pioneiros, mas se destacam por embarcar na tendência de fazer uma música eletrônica cada vez menos purista, acessível para outros nichos que não só no gueto do House-Techno-Trance-D’n’B.

A auto ironia indie também se faz bastante presente, já que mesmo ambos sendo heteros, se denominam como “Bears”, que é um tipo de gíria pra gays robustos e peludões. Além desses dois serem, de fato, grandalhões e barbudos, o nome é também vinculado ao fato de que o House começou e sempre se manteve muito popular na ~cena GLS~ — pelo menos até surgir a Lady Gaga.

Terminologias e preferências sexuais à parte, os dois ursões fizeram um disco simples com uma proposta simples, que funciona muito bem. Em “Be Strong”, as referências são homenageadas, o revivalismo soa contemporâneo e é um disco que funciona tanto na pista quanto nas tardes chuvosas em que você caminha a pé para ir até o psiquiatra e acaba tomando o maior caldo d’água da vida, estragando seu iPod e pegando uma pneumonia.

Enfim, “Be Strong” é mais um belo disco indie de música eletrônica que, ao mesmo tempo em que pode soar como “nada demais”, merece sua atenção; seja você rocker, raver, gay, hetero ou pansexual.

Disco: Be Strong

Artista: The 2 Bears

Lançado em: 30/01/2012 [estou esperando o 1o babaca reclamar que o disco é de janeiro]

Selo: DFA / Southern Fried

Produtores: Joe Goddard e Raf Rundell [DJ Raf Daddy]

Melhores faixas: O grande single Work, a faixa título Be Strong e Ghost & Zombies são os maiores destaques; Heart of the Congos, Get Together e Take a Look Around também merecem um lugar ao sol.

Quando não ouvir: Quando você estiver obcecado por guitarras.

Quando ouvir: Quando você não aguentar mais da mesma ‘fórmula indie’ [risos].

Pra quem gosta de: Hot Chip, Azarri & III, Hercules & Love Affair e Fred Falke.

O irmão bastardo de Lana Del Rey

Publicado originalmente em 09/02/2012 @ MyCool

A gente praticamente não fala da Lana Del *RONC* por aqui porque ninguém da máquina corrupta indie nos ofereceu dinheiro pra bombar ou gongar a mina como fizeram com o resto todo da blogosfera #ciumes. Mas do irmão brazuca bastardo dela a gente recebeu uma bolada não pode deixar de falar!

Conheça PEU DEL REY, o baiano que vai tocar seu S2, abrir seu sutiã com os acordes do violão e fazer você jogar a calcinha no palco #RIPWANDO. Fruto de uma das puladas de cerca do pai bilionário de Lana em sua “viagem de negócios” para Salvador – que era apenas uma desculpa para conhecer bundas, samba e caipirinha –, esse boa praça produz um som que, se não é único e de vanguarda, compensa com o carisma, beleza e malemolência! Suas referências, segundo o próprio Peu, vão de Paralamas do Sucesso a Jack Johnson, produzindo um indie pop que parece uma mistura de MGMT e Passion Pit. O cara já está estourando no Brasil inteiro e dominando a blogosfera hipster — saiu até no Lúcio Ribeiro. Te cuida Michel Teló!

Com uma verdade artística muito superior à da irmã, Peu Del Rey largou atrás, mas está com tudo para assumir o posto de queridinho do mundo assim que Lana encontrar o homem canastrão que fantasia em todas as suas estrofes e largar a vida de pop-star. Além de tudo, Peu Del Rey é muito mais humilde e melhor cantor ao vivo, o que sugere que ele vai ser muito menos rechaçado.

Ele não lembra um pouco aquele cara que cantava: desde que chegava no sofá contava as horas pra te ver o que fazer onde você está ô menina deixa disso quero te conhecer vê se me dá uma chance quero te conheceeeerr ou algo assim? Me pergunto o paradeiro daquele rapaz, a última coisa que vi dele foi isso: