E falando em Giorgio Moroder…

Publicado originalmente em 27/05/2013 @ MyCool

A lenda viva Giorgio Moroder tem aparecido com bastante frequência por aqui. Não fosse o bastante ser um pioneiro da dance music, o bom velhinho, no auge de seus 73 anos, está experimentando o contato com o hype no século XXI graças à justa homenagem que o Daft Punk presta aos ídolos do passado em seu novo álbum.

Subitamente, o mundo se lembrou de como ele foi foda – e, principalmente, o mundo se deu conta de que ele AINDA É FODA. Curioso é que, mesmo com o rótulo de pioneirismo que Moroder carrega há décadas, ele nunca havia se apresentado como DJ. Isso até semana passada, quando em evento da Red Bull Music Academy – sempre eles! – na clássica balada Deep Space, em NYC, o tio Giorgio fez seu primeiro live set da vida. E vejam bem, ele não ***aTaCoU dE Dj***; ele mandou pra caralho, como artista de respeito que é.

Com a sua tradicional pegada space-disco-retrô-futurista, o italiano simpático mixou obscuridades com os hits que produziu pra Donna Summer, como Love To Love You, Hot Stuff e I Feel Love. Também lançou mão da novíssima Racer e fechou com Giorgio By Moroder – uma das melhores do novo disco do Daft Punk e que, como ele mesmo se gaba, é uma das raras músicas-documentário da história. Aliás, toda a narração da track foi recontada ao vivo por ele, que enriqueceu a história com mais detalhes, se enrolou na hora de anunciar o próprio nome e contou todo risonho que a Donna Summer tinha se inspirado nele pra gravar os gemidos ~sensuais~ de Love To Love You no estúdio. É muito carisma!

Giorgio

It’s meeee, GIORGIO!

A empreitada épica do Flight Facilities

Publicado originalmente em 31/01/2013 @ MyCool

Meu principal objetivo no MECA 2013 – realizado no último sábado em hotel fazenda em Xangri-Lá, como tínhamos anunciado aqui – era ver o DJ Set do duo australiano Flight Facilities. Com uma performance muito boa – tanto tecnicamente quanto em feeling e repertório –, saí de lá livre-leve-e-faceiro, com as expectativas correspondidas.

Eis que ontem, ainda no clima, resolvi ouvir um DJ Mix deles que tava na minha to do list desde o seu lançamento no Soundcloud, há uns 20 dias: a primeira parte do Flight Facilities for ‘triple j Mix Up Exclusives’. Quanto mais eu ouvia, mais perplexo eu ficava de QUÃO FODA era tudo aquilo – os caras tinham mixado com maestria um monte de coisa boa dos anos 70 [sendo boa parte versões originais!] com recortes de áudio de momentos históricos da época.

Dando uma lida no blog dos FF, deu pra sacar do que se trata: convidados pelo projeto da rádio australiana triple j – em que um artista apresenta nada mais nada menos que QUATRO DJ MIXES em UM MÊS –, os Flight Facilities mostraram que são nerds pra caramba e transformaram a limonada em um coquetel siciliano ciborgue devorador de rottweilers alemãos. Como?!, vocês perguntam. Muito simples, eu respondo: transformando cada mix em documentos históricos de dez anos, viajando de 1972 até 2012.

Pra entregar tudo isso no último outubro, foram necessárias horas e horas de pesquisa [com mais de 10 mil músicas ouvidas, segundo eles], criação de alguns edits pra poder encaixar melhor nas transições e mais horas e dias pra pesquisar os principais acontecimentos globais de cada ano. Feita a pesquisa, as mixagens das tracks seguem uma ORDEM CRONOLÓGICA – o que facilmente comprometeria um trabalho de fluidez e continuidade em um Mix, mas não, OS CARAS CONSEGUIRAM FAZER TUDO DESCER SUAVE –, com os recortes históricos aparecendo conforme o ano da música que está tocando [!!!]. Sim, um trabalho brutalmente obsessivo e genialmente psicopata.

O Mix acima é , portanto, a primeira parte dessa viagem épica pelo maravilhozzo mundo da música, de 1972 a 1982, começando com Stevie Wonder e terminando com Queen & David Bowie [clique aqui para ver o set list]. E sim, o projeto foi ao ar em outubro, mas só agora eles começaram a soltar no Soundcloud, então aguardamos as próximas partes com ansiedade. Podem deixar que postarei aqui assim que elas forem vazando!

* Momento chato-moralista-necessário: Uma cena não se constrói com o hype. Se você gostou do set do Flight Facilities no MECA, procure dar um pouco mais de atenção à sua própria região. Existem incontáveis DJs dedicados e com uma pegada parecida com a dos FF buscando um lugar ao sol perto de você, é só se antenar.

** Desconsidere o fato do Mix ter uma hora. Vai passar voando [RISOS].

*** A história toda com mais detalhes, fotos e etc. tá lá no blog dos caras.

**** Veja a continuação dessa saga: parte II | parte III | parte IV

Flying Lotus ganha presentinho da Moog™, gera mídia gratuita e faz publicitários terem sonhos molhados

Publicado originalmente em 22/01/2013 @ MyCool

A sensação da IDM/instrumental-hip-hop/pós-alguma-coisa-vanguardista Flying Lotus está sempre aí pra nos presentear com novidades. O cara é tão conceituado que, além de ídolo do Thom Yorke, ganhou de presente da Moog™ – essa marca de sintetizadores tão tranzuda – a chance de poder usar um novo brinquedinho antes de qualquer outro ser existente no cosmos.

Com o sintetizador analógico Sub Phatty [com esse nome ele só pode ter sido mercadologicamente direcionado pros produtores de rap], FlyLo produziu Such a Square, uma nova track que é tão boa quanto curta. Pra dar mais um brilho na parada toda, o artista visual Adam Fuchs [nome sugestivo detected] – já bastante acostumado a colaborar com Lotus – foi recrutado pra vir com o vídeo.

O resultado dessa ação da Moog™ rendeu uma penca de posts de bloggers trouxas, como este que vos escreve, que acabam gerando publicidade de graça pra eles. Enquanto isso, FlyLo permite que sua imagem seja explorada em troca de novos brinquedos. Mais um cAsE dE sUcE$$o de como fazer uma propaganda autêntica, que gera pra marca fidelidade, credibilidade, mídia espontânea e todos esses blablablás de publicitário.

                Bem-vindo ao mundo corporativo

                Onde as marcas são tudo

                E tudo são marcas

                Não há para onde fugir

                Você não tem escolha

                Junte-se a eles

                Ou termine no ostracismo

                Apenas os fortes sobreviverão

                E os fracos devem morrer

                Porque nós estamos vivendo

                Em um mundo materialista

                E eu sou

                Uma garota materialista

Discos do ano – fIN

Publicado originalmente em 18/12/2012 @ MyCool

Produzido pelo produtor catalão John Talabot – que se apresentou no Sonar SP em 2012 e cujo nome verdadeiro desconhecemos –, fIN (Permanent Vacation, 2012) se trata de um daqueles discos de uma música eletrônica não tão orientada para as dancefloors – mas que nada impede que possa gerar hinos das pistas, pelo menos pra quem estiver louco da pedra.

Talabot, como qualquer artista talentoso que não é empurrado mercadologicamente goela abaixo da blogosfera [cofcoflanadelreycofcof], teve sua ascensão de forma progressiva e natural, colhendo um burburinho ali em 2009, um hitzinho acolá em 2010, e atingindo um puta de um status agora em 2012 – tudo graças a fIN.

O som do debute do barcelonense – que, podes crer, tem influência direta do Mediterrâneo – namora a música eletrônica experimental/IDM, o ambient e até um pouco de psicodelia, mas também não deixa de flertar com a house music/balearic/disco, trazendo em vários momentos – principalmente nos “hits” Destiny, Last Land e When The Past Was Present – uma boa dose de groovezinho-ensolarado-legal-pra-lounge-ou-pra-abrir-uma-pista. Só que, se o house e a disco não raramente estão associados a elementos tropicais – praia, palmeiras, piscina, gente rica e mulher pelada –, o tropicalismo promovido por Talabot é mais sombrio, denso, carregado em textura. O que temos em fIN não é uma Riviera Francesa ou uma piscina de luxo em uma mansão na California, mas sim uma selva, que por vezes pode te levar a territórios ásperos e desconhecidos.

Tudo em fIN carrega a imagem pantanosa da selva e, como toda selva que se preze, pode parecer hostil ou desconfortável pros desavisados. Aos ~desbravadores~, porém, é um convite bastante tentador, principalmente pelo fato de ser uma obra muito bem delineada, com começo meio e fIN [RISOS]. A introdução de 7 minutos, Depak Ine, deixa os sinais bastante claros – inclusive escancarando o imaginário em questão através de sons de sapos, macacos, corujas e insetos. Temos, portanto, um dos registros mais coesos e interessantes de 2012 – pelo menos pra quem tiver “coragem” e “estrada”. Só vê se não me esquece do repelente pra insetos, de um kit de primeiros socorros e, se possível, do Indiana Jones pra desbravar a bagaça.

Disco: fIN

Artista: John Talabot

Lançado em: 14 de fevereiro de 2012

Selo: Permanent Vacation

Melhores faixas: Depak Ine, Destiny, Missing You, Last Land, Estiu, When the Past Was Present e So Will Be Now

Quando não ouvir: Na hora de ajeitar as pelanca na academia.

Quando ouvir: Bastante adequado pra momentos de introspecção no quarto, na rua e também pra pirar com teus amigos doidões.

Pra quem gosta de: Lone, Caribou/Daphni, Bonobo, Burial, Yeasayer e Delorean.

Discos do ano – Trouble

Publicado originalmente em 04/12/2012 @ MyCool

Dezembro-sol-suor-e-bundas já está no ar e, como não poderia deixar de ser, chega aquele período da vida em que ninguém tem saco pra produzir mais nada, então nos limitamos às retrospectivas de tudo o que já aconteceu pra parecer que vivemos um ano muito importante e cheio de coisas ~excitantes~.

Também somos Maria-vai-com-as-outras [há quanto tempo não escutava essa hein?]  e entramos nessa onda, apresentando os discos mais tranzudos de 2012 na avaliação da casa. Alguns já foram resenhados por aqui, e no fim vamos juntar tudo em uma linda lista. Sigam-me os bons!

Pra começar a função, eu não poderia escolher outro disco. Trouble (POLYDOR, 2012), debute do Totally Enormous Extinct Dinosaurs, foi um disco razoavelmente bem aceito pelos críticos ao redor do planeta, conquistando respeito e um lugar ao sol. Não conseguiu um destaque maior porque se trata de uma obra de dance music, o que pra muita gente é taxado como “menos importante”. No meu S2, contudo, ele é o número um. O impacto que me causou se compara ao que os dois primeiros discos do Bloc Party fizeram comigo. Isto é, GIGANTESCAMENTE importante.

Consistente do início ao fim – como há muito tempo eu não via um disco ser –, não existem tracks medíocres, mas sim duas [sim, SÓ DUAS] dispensáveis. À exceção de Promisses e Shimmer, justamente primeira e terceira faixa, as músicas restantes não deixam a peteca cair em momento algum. E se a primeira metade é empolgante, a reta final – de Tapes & Money até Stronger – é o ápice da parada toda. Nada mal pra uma época em que 97% dos álbuns têm no máximo três ou quatro músicas realmente boas.

Como vinha martelando aqui desde 2011, o TEED era minha principal aposta na nova música – esperança essa que foi mais do que correspondida. Com uma identidade visual marcante, um conceito amplo bem trabalhado e uma música que mistura vertentes do house, techno, bass e synth pop revestidos por uma sensibilidade indie, nosso amigo Orlando Higginbottom conseguiu desenhar um resultado final bem autoral e que consegue ser tão brilhante quanto acessível. Isto talvez se justifique pelo foco em duas frentes: primeiro, o desafio de lutar contra a obsolescência da dance music – em que produtores lançam discos e faixas com data de validade marcada em seus encartes – e, em segundo, a forte presença de uma melodia bem trabalhada, outra carência presente na EDM atual.

Assim, Orlando conseguiu produzir uma obra marcante, dançante, profunda, bela e de forte apelo emocional, por mais despretensioso que seja o seu discurso. Porque pra alguém que diz que só quer que as pessoas se divirtam, o Totally Enormous Extinct Dinosaurs conseguiu muito mais do que isso.

Disco: Trouble

Artista: Totally Enormous Extinct Dinosaurs

Lançado em: 11 de junho de 2012

Selo: Polydor Records

Melhores faixas: Trouble, Household Goods, Your Love, Panpipes, Garden, Solo, Tapes & Money, American Dream pt. II, Closer, Fair, Stronger. É, na real, escuta o disco todo, vai!

Quando não ouvir: Antes de dormir.

Quando ouvir: Sempre.

Pra quem gosta de: Daft Punk, Disclosure, SBTRKT, Bag Raiders e Hot Chip

Disco do Mês: The 2 Bears – Be Strong

Publicado originalmente em 29/02/2012 @ MyCool

A gente segue vivendo o fim desse ciclo do Indie Rock [as we know it] e pode ir percebendo a erosão que a música independente vem sofrendo, até chegar o ponto em que uma nova cena se estabeleça do underground pro mainstream [ciclo natural da vida]. O que já da pra reparar é que os olhares de boa parte dos fãs, críticos e artistas do gênero – que na última década acompanharam desde o nascimento dos Strokes até a conquista do Grammy pelo Arcade Fire – têm se voltado pra outras vertentes, como Dubstep, Nu Disco, Hip Hop ou revivalismos garageiros.

O disco “Be Strong”, do duo The 2 Bears – formado por Joe Goddard, do Hot Chip, e Raf Rundell –  é um bom exemplo do que podemos chamar de Indie House. Um resgate ao House tradicional, porém combinado com outras vertentes de Dance Music e até com pequenas parcelas de gêneros acústicos, como o Folk. Não que eles sejam pioneiros, mas se destacam por embarcar na tendência de fazer uma música eletrônica cada vez menos purista, acessível para outros nichos que não só no gueto do House-Techno-Trance-D’n’B.

A auto ironia indie também se faz bastante presente, já que mesmo ambos sendo heteros, se denominam como “Bears”, que é um tipo de gíria pra gays robustos e peludões. Além desses dois serem, de fato, grandalhões e barbudos, o nome é também vinculado ao fato de que o House começou e sempre se manteve muito popular na ~cena GLS~ — pelo menos até surgir a Lady Gaga.

Terminologias e preferências sexuais à parte, os dois ursões fizeram um disco simples com uma proposta simples, que funciona muito bem. Em “Be Strong”, as referências são homenageadas, o revivalismo soa contemporâneo e é um disco que funciona tanto na pista quanto nas tardes chuvosas em que você caminha a pé para ir até o psiquiatra e acaba tomando o maior caldo d’água da vida, estragando seu iPod e pegando uma pneumonia.

Enfim, “Be Strong” é mais um belo disco indie de música eletrônica que, ao mesmo tempo em que pode soar como “nada demais”, merece sua atenção; seja você rocker, raver, gay, hetero ou pansexual.

Disco: Be Strong

Artista: The 2 Bears

Lançado em: 30/01/2012 [estou esperando o 1o babaca reclamar que o disco é de janeiro]

Selo: DFA / Southern Fried

Produtores: Joe Goddard e Raf Rundell [DJ Raf Daddy]

Melhores faixas: O grande single Work, a faixa título Be Strong e Ghost & Zombies são os maiores destaques; Heart of the Congos, Get Together e Take a Look Around também merecem um lugar ao sol.

Quando não ouvir: Quando você estiver obcecado por guitarras.

Quando ouvir: Quando você não aguentar mais da mesma ‘fórmula indie’ [risos].

Pra quem gosta de: Hot Chip, Azarri & III, Hercules & Love Affair e Fred Falke.

Mediunidade hipster – as previsões do MyCool para 2012

Publicado originalmente em 05/01/2012 @ MyCool. Post de maior sucesso de público do autor, vindo a ser replicado no Popload, do jornalista Lúcio Ribeiro

"Eu vejo hipsters mortos"

A entidade suprema e onipresente da ironia hipster conhecida como “Carles” – do site Hipster Runoff – lançou suas “previsões ousadas” para a cena alt-descolada no ano que começa. Inspirados por suas visões, nós do MyCool fomos até uma macumbeira oportunista vidente simpática que ~consultou os astros~ e veio com revelações que vão afetar o nosso mundinho hipster em 2012.

Atenção: todas as previsões a seguir são completamente exclusivas e contém SPOILERS de 2012. Confira se você tiver coragem.

– 80% das bandas promissoras que lançaram um bom disco de estreia vão produzir um segundo disco irrelevante.

– Uma banda com inúmeros fãs xiitas vai receber uma nota medíocre no Pitchfork e eles vão xingar muito no twitter.

– Algum casal indie-fofura vai se separar e os fãs vão lamentar, enquanto os outros vão comemorar que ele/ela está solteiro(a).

– Os hipsters vão defender o Michel Teló dos críticos até outro hit medíocre viralizar e ninguém mais lembrar do Michel Teló.

– Michel Teló vai lançar um novo single que vai gongar na internet por menos de uma semana.

– Seus pais vão ouvir falar em Michel Teló.

– Alguma banda coxinha vai lançar um vídeo muito bem trabalhado pra uma canção insuportável e desembocar no Faustão.

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– Lana Del Rey vai lançar o disco mais amado e odiado do ano.

– Lana Del Rey vai fazer o disco do ano segundo a Rolling Stone, o terceiro melhor disco do ano segundo a NME e tirar uma nota medíocre no Pitchfork.

– Lana Del Rey morre por 15 minutos, até as pessoas descobrirem que se trata de um boato.

– Lana Del Rey vai namorar um ator canastrão europeu que tem o dobro da idade dela.

– Lana Del Rey vai tirar fotos conceituais pagando peitinho clicadas por Terry Richardson.

– Lana Del Rey vai fazer qualquer coisa irrelevante e virar notícia.

– Lana Del Rey vai atacar de DJ nas baladas mundo afora.

– Michel Teló vai atacar de DJ nas baladas mundo afora.

– Seus pais vão atacar de DJ nas baladas mundo afora.

– As piadas de “atacar de DJ” vão atacar de DJ nas baladas mundo afora.

– Uma nova série baseada em alguma criatura macabra vai virar modinha, até todo mundo se dar conta de que ela é mais um clichê babaca depois da primeira temporada.

– Bon Iver vai ganhar o Grammy.

– Banksy vai ser desmascarado.

– Lúcio Ribeiro vai continuar sendo alvo de hipsters que leem tudo que ele escreve no Popload só para xingar nos comentários.

– Lúcio Ribeiro vai confirmar shows que não vão rolar.

– Lúcio Ribeiro vai ajudar a trazer pro RS vários shows de bandas indies gringas que nunca estiveram aqui antes, mas que não vão dar retorno porque os ingressos custarão dinheiro.

– Skrillex vai lançar um single em parceria com o David Guetta.

– Skrillex vai lançar um disco medíocre que vai ser sucesso de vendas.

– Azealia Banks vai ser considerada o “Tyler The Creator com 53105”.

– Seu irmão mais novo vai começar a gostar de hip-hop e dubstep.

– Seu irmão mais novo vai atacar de DJ nas baladas mundo afora.

– Vai surgir uma “nova joia” na MPB-indie que será taxada de coxinha pelos críticos.

– Todo mundo vai eleger qualquer nova banda indie que não use sintetizadores como “a salvação do rock”.

– Todo mundo vai se decepcionar porque não vai encontrar a “salvação do rock” em 2012.

– Todo mundo vai começar a prestar atenção em um rapaz de 14 anos que constrói os próprios samplers e sintetizadores para fazer música de vanguarda.

– Vão surgir artistas de “pós-chillwave”.

– Nenhuma mídia indie vai dar bola pra qualquer nova fonte de música eletrônica underground, exceto pelo dubstep americano.

– O mainstream vai ficar mais trash do que nunca.

– A NME vai apostar em outra banda que quer ser o Oasis, até eles lançarem o disco e todo mundo esquecer que eles existem.

– Noel Gallagher vai acusar Liam de peidorreiro e ganhar manchete na NME.

– O festival Planeta Terra vai anunciar nomes supervalorizados como headliners, que vão lotar o main stage, enquanto os melhores shows do festival vão rolar no indie stage para 47 pessoas.

– O Lollapallooza BR vai ser conturbado.

– Todo mundo vai reclamar no twitter da fila, estrutura e transportes do Lolla pelo iPhone na hora de assistir os shows.

– Todo mundo vai dizer que o Foo Fighters fez “o show do ano”.

– A Apple vai lançar outro aplicativo que todos os hipsters vão usar até virar mainstream.

– Todos os hipsters vão largar o Facebook e migrar pro Google +.

– Vão começar as reclamações da “orkutização do Google +”.

– O Google vai inventar uma nova rede social falhada.

– Algum anônimo vai sair em uma foto pública fazendo algo totalmente irrelevante e virar meme no tumblr.

– O tumblr vai “orkutizar”.

– O Brasil vai ter o ano mais rico em atrações estrangeiras da história, mas os gaúchos vão continuar reclamando dos preços dos ingressos.

– O Meca Festival vai ser o melhor festival nacional do ano, mas ninguém fora do RS vai dar bola.

– Thom Yorke vai fazer um show apoiando alguma causa política de esquerda.

– Algum artista vai morrer e todo mundo vai baixar a obra dele e dizer que o mundo “perdeu um grande talento”.

– Lady Gaga vai virar atriz.

– Florence vai virar a nova Cher.

– Adriano Cintra vai lançar mais vídeos ironizando as ex-colegas de banda, removendo-os do ar no mesmo dia.

– O CSS vai acabar.

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– Vão surgir 37 novas bandas que são “uma mistura de Passion Pit com MGMT”.

– O Vampire Weekend vai lançar um disco completamente inacessível baseado apenas em ruídos sintéticos e silêncio, tirando 9.3 no Pitchfork.

– O Killers vai lançar um disco novo que todo mundo vai detonar, mas secretamente ouvir todo dia.

– Yannis Phillipakis, do Foals, vai começar uma carreira solo com grande influência eletrônica.

– Kanye West e Jay-Z vão confirmar shows no Brasil, mas cancelar posteriormente.

– Alguma banda pedante de britpop que todo mundo ama incondicionalmente vai voltar e lançar um disco fracassado.

– O Franz Ferdinand vai lançar um dos melhores discos do ano, que vai ficar em 36º lugar no Pitchfork.

– O Breakbot vai fazer um discaço, mas não vai figurar nas principais listas de fim de ano.

– O XX vai lançar um novo disco melhor que o debut, mas os fãs xiitas não vão gostar.

– O Bloc Party vai fazer o disco mais underrated do ano.

– Alguns críticos vão ficar de olho em uma nova cena e apostar que dela vai sair “o novo Strokes”, mas vão esquecer disso depois de dois meses.

– Os Strokes vão acabar (de novo).

– No fim do ano, a BBC vai apostar alto em uma nova garota que todo mundo vai hypar até morrer em 2013, até todo mundo esquecer dela.

– Os hipsters vão discordar de todas as listas de fim de ano, sendo que terão ouvido menos de 10% dos discos eleitos e terão curtido menos de sete álbuns novos no ano todo.

– O mundo vai conhecer a verdade do dezembro de 2012 e descobrir que ela está interligada com as “mortes” de Michael Jackson e Steve Jobs.

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– O Indie Rock vai morrer de vez.

– Os blogs vão morrer.

– A internet vai ser privatizada.

– Você vai ter preguiça de ler esse post.

Retrospectiva 2011 – ato I: os melhores discos do ano

Publicado originalmente em 26/12/2011 @ MyCool

PJ Harvey coleciona canecos e medalhas em 2011

Alô amigos! Retornei do meu retiro judaico-espiritual e volto a escrever no MyCool para a infelicidade de alguns e indiferença de muitos.

O Natal/Chanukká/Festivus já passou e, se você não chegou a acompanhar com tanto afinco as polêmicas listas de fim de ano que amamos odiar, o MyCool traça o panorama enquanto você ainda digere aquela ave gorda que foi assada com muito amor pela sua Tia Berta, porém brutalmente assassinada por uma enfermeira fria e calculista.

É claro que essas listas da crítica são muito subjetivas e não conseguem escapar ao perfil do veículo, gosto pessoal dos críticos ou jabá dos empre$ários, mas analisando diversas fontes, podemos solidificar um padrão.

O Metronomy, que lançou o melhor disco e foi a banda do ano na opinião do que vos escreve, dividiu opiniões; o álbum The English Riviera foi ovacionado pelos ingleses e esnobado pelos americanos. Ficou em primeiro lugar no Gigwise, em segundo na NME, no The Fly e na MusicOMH,  e em terceiro na Uncut e no DIY – todos canais britânicos. Além disso, conseguiu ficar entre os dez melhores discos em mais seis listas.

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O ano, porém, foi da PJ Harvey. Além de faturar o Mercury Prize, o  Let England Shake da moça agradou NMEistas e pitchforkeanos, coletando TREZE medalhas de ouro (NME, Uncut, Mojo, Boston Globe, The Guardian, Los Angeles Times, Washington Post, MusicOMH, No Ripcord, The Quietus, Slant, BBC Music e – ufa! –NPR), quatro de prata (Spin, The Observer, DIY e Q) e quatro de bronze (Exclaim!, The Telegraph, Drowned in Sound e Gigwise). Além disso, figura em 95% das listas e está no top 10 da maioria (mas ficou em 47º lugar na Rolling Stone. Tu vê). O curioso é que a recordista do ano foi bem menos hypada que a Lana Del Rey por aí.

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Outro grande destaque foi o Bon Iver, que além de ser nomeado a uma penca de coisas no Grammy, conquistou seis ouros (Pitchfork, Exclaim, Paste, Star Tribute, Epitonic e The Owl Mag), sete pratas (Billboard, Filter, Consequence of Sound, PopMatters, NPR, Amazon e The Record Exchange) e quatro bronzes (Under the Radar, A.V. Club, Stereogum e Rhapsody) com seu segundo e auto-intitulado álbum.

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O Jayza e o Kanye West avisaram pra “cuidar o trono”, e acabaram figurando em uma penca de listas também. Não conseguiram nenhum primeiro lugar, mas tiveram quatro medalhas de prata (Rolling Stone, Washington Post, Complex e Slate) e três de bronze (Billboard, New York Times, Time) com o Watch The Throne.

Já o Fucked Up fez um indie-punk barulhento que não me pegou, mas agradou bastante o colega Leandro Souza. Além dele, a Spin também elegeu o disco David Comes to Life como o melhor de 2011, enquanto o A.V Club deu a segunda posição e o PopMatters e a Spinner, a terceira.

Nosso outro colega Leandro, o Vignoli, curtiu demais o Hurry Up, We’re Dreaming, do M83 (que, segundo o Pitchfork, é o disco responsável pela música do ano). Os franceses também se deram bem pra caramba nas listas, conseguindo ficar entre os dez primeiros em treze delas, com uma taça de campeão na Filter, um vice na Under The Radar e na Owl Mag e cinco vagas diretas pra Libertadores no Pitchfork, Washington Post, Treble, XLR8R e Pinpoint Music.

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2011 também foi o ano da popularização do dubstep, culminando no mainstream americano em uma nova roupagem bastante controversa. Mas a turma do Skrillex só fez sucesso mesmo com o público, porque para a crítica (e para o bom senso), o dubstep britânico é o que segue valendo. James Blake levou um ouro (The Telegraph), duas pratas, um bronze e doze top10, enquanto o SBTRKT conquistou uma aparição no Top10 da Drowned in Sound e mais figuração em seis outras listas.

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A Adele, que fez um disco bem zZzzZZz, foi a artista que mais equilibrou o sucesso no mainstream e na crítica especializada, contando com oito primeiros lugares (Rolling Stone, Time, Amazon, Rhapsody, Billboard, Associated Press, Entertainment Weekly e Star Tribune), três segundas posições (HitFix, MTV e Boston Globe) e mais onze top tens para o seu sonolento 21.

Outros discos que falamos ao longo do ano por aqui e que merecem menções honrosas são o Skying, dos The Horrors (três medalhas de prata), Smother, dos Wild Beasts (uma prata e um bronze), Within and Without, do Washed Out (cinco top10), além de Kaputt, do Destroyer (um ouro e três pratas) e w h o k i l l, do tUne-yArDs (um ouro e quatro pratas), que ainda não falamos a respeito, mas que deveríamos ter falado (hehe).

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* Pra fazer esse post foram analisadas mais de onze listas completas e o site Metacritic, que faz uma somatória de pontos de todas as listas oficiais que saíram em revistas e sites, ranqueando, então, os melhores do ano. A classificação final ficou assim:

1. PJ Harvey – Let England Shake

2. Bon Iver – Bon Iver

3. Adele – 21

4. tUnE-yArDs – w h o k i l l

5. St. Vincent – Strange Mercy

6. The Weeknd – House of Balloons

7. Shabazz Places – Black Up

8. Fleet Foxes – Helplessness Blues

8. Jay-Z & Kanye West – Watch the Throne

10. James Blake – James Blake

11. Kurt Vile – Smoke Ring for Halo

11. Girls – Father, Son, Holy Ghost

11. M83 – Hurry Up, We’re Dreaming

14. Drake – Take Care

14. The Antlers – Bust Apart

14. Metronomy – The English Riviera

17. Fucked Up – David Comes to Life

18. The Horrors – Skying

18. Wilco – The Whole Love

20. Destroyer – Kaputt

20. Tom Waits – Bad As Me

Se você ficou de cara com todas as listas dos sites e com o ranking final, então essa lista aqui deve te agradar mais.

O futuro da discotecagem

Publicado originalmente em dezembro de 2011 @ Revista Zunido #2 [revista impressa]

Ser DJ é um lance cada vez mais subjetivo. Misturam-se num mesmo saco produtores, artistas, gênios, profissionais, semi-profissionais, gente que toca de tudo em festa de casamento, gente que faz o feijão com arroz, gente que faz por hobbie, gente que leva na zoeira, ou gente que faz apenas pra se autopromover – o caso mais notório é o do modelo Jesus Luz, o Milly Vanilly das pickups.

Temos diferentes vertentes, estilos, propostas e tribos apropriando-se de uma antiga nomenclatura que é, paradoxalmente, tão glamourizada quanto banalizada nos dias de hoje. Não proponho aqui, porém, uma discussão existencial sobre quem é o que ou gerar algum questionamento inesgotável do calibre de “afinal, o que é arte?”.

Estipula-se que no fim de 2012 o CD fique completamente obsoleto. Talvez demore mais um pouco para a sua morte, mas é fato que ele vai desaparecer, levando o mesmo fim da fita cassete. Consequentemente, isso faz com que os CDJs comecem a entrar em desuso. Embora também sejam bastante usados pelos DJs mais profissionais, muita gente já migrou há certo tempo pra novas tecnologias, como as controladoras MIDI.

Pra quem não sabe, essas controladoras são aparelhos similares a uma mesa de discotecagem, mas bem mais compacta, que se conectam nos computadores. A partir daí, podem ser programadas para controlar softwares de discotecagem. Controladoras específicas são construídas com características diferentes para se moldar às preferências de cada DJ. Alguns, por exemplo, preferem usar o programa Traktor combinado com controladoras desenhadas para ele, como a poderosa S4 da Native; outros podem optar por discotecar com o Ableton LIVE (que é originalmente um software de produção) e uma APC40, da Akai, que foi feita especificamente para o programa.

Ainda é bastante comum ter DJs que prefiram trabalhar com vinil, como os DJs de dubstep e os DJs de rap, por causa dos scratches e dos ruídos da agulha. Muitas vezes, o que mais impulsiona essa escolha é todo o romantismo atribuído hoje aos Long Plays, como no caso do James Murphy, do aposentado LCD Soundsystem. Como é cada vez mais difícil tocar com as pickups tradicionais – já que envolve achar vinis raríssimos, transportar caixas e mais caixas de discos e uma técnica muito mais apurada – há quem escolha simuladores como o Serato, em que se trabalha com dois discos “vazios”, que emulam a música desejada através do computador.

Os DJs podem a cada dia fazer coisas mais novas e criativas, como tocar com mesas de samples, que funcionam quase como instrumentos musicais, construir mashups ao vivo, mixar várias faixas de uma vez, trabalhar com várias opções de efeitos e agregar diferentes tipos de instrumentos, sintetizadores e baterias eletrônicas para a sua performance. Claramente, se apropriar de qualquer uma dessas “legalzices” pra discotecar envolve bastante conhecimento, prática e dinheiro. O que vai substituir os CDJs no futuro, então?  Ganha uma barra de Hershey’s quem respondeu touchscreen.

Através de uma combinação de softwares e aplicativos, já é possível discotecar com aparelhos eletrônicos que você nem imagina. Basicamente, qualquer controle que pode ser conectado a um computador pode ser utilizado como ferramenta para o DJ. Já tem gente tocando com controle de Nintendo Wii, iPhone e iPad, por exemplo. Está justamente no iPad a possível matéria prima dessa transformação; é leve, facilmente portátil, responde ao toque e pode funcionar perfeitamente no lugar das controladoras MIDI tradicionais. Precisa ainda de muitos aperfeiçoamentos para definitivamente entrar no jogo e garantir uma performance PRO, mas acreditem, o futuro vem daí.

Engenheiros já desenvolveram mesas de discotecagem touch. Grandes telas transparentes que rodam programas como o próprio Traktor, ou possuem um software específico, todo moldado para responder ao toque.

Investe-se nessa tecnologia porque ela é mais simples de usar, permitindo que os DJs possam se focar em mais recursos criativos e menos em “burocracia”. Gravar CDs, levar vários equipamentos caros, pesados e cheios de fios, se preocupar em acertar o pitch para mixar e equalizar as faixas exige muita concentração, fazendo com que seja mais trabalhoso ir atrás de outros recursos além destes. Tudo isso será simplificado, fazendo com que muito bigodudo choramingue porque as novas tecnologias difundem ainda mais as barreiras entre o profissional e o amador. Outros, porém, ficarão extremamente felizes pelo fato de poderem agregar cada vez mais novos recursos criativos para o seu trabalho.

Fazer uma mixagem já é uma atividade quase automática hoje em dia. Muito em breve, deve ficar ainda mais fácil de se executar, mas talvez por isso mesmo, ter um nome consolidado como profissional torne-se uma tarefa cada vez mais árdua. Será necessário atingir novos e mais complexos recursos criativos para se diferenciar e, provavelmente, quem não for um DJ produtor ou um artista criativo acabe com mais dificuldades para deslanchar uma carreira.

Por outro lado, espera-se que a “modinha” do “atacar de DJ” encerre seu ciclo, naturalmente afastando quem não tem tanto amor pela coisa. Sendo assim, quem não toca necessariamente música eletrônica também tende a conquistar cada vez mais o seu espaço e respeito como profissional.

O formato com que se discoteca e as ferramentas utilizadas evoluem e continuarão mudando cada vez mais em direção a uma simplificação. A essência para se tornar um bom DJ, entretanto, vai permanecer sempre a mesma: tocar música boa, ter identidade e ter alma.

Cinco músicas para: voar de avião

Publicado originalmente em 03/08/2011 @ MyCool

Nossa última coluna de música debutante dá as caras hoje. A proposta é bem autoexplicativa: a cada mês, seleciono cinco músicas que convém em torno de temas e situações específicas.

Pra estreia, me lembrei das minhas férias de inverno no ano passado, quando me aventurei pelas inóspitas terras do Oriente Médio (porque Europa é muito mainstream), enfrentando desafios como atendentes de casas de câmbio mal encarados e religiosos fanáticos que não tomam banho.

A questão é que seja em um vôo com blindagem anti-terrorista para Tel-Aviv ou em uma viagem de rotina até o aeroporto de Guarulhos, é bom você estar sempre com o iPod a mão e carregado, porque ouvir as músicas certas no momento certo pode causar uma experiência única e mudar sua vida – sérião!

Minha seleção pra se escutar lá de cima é no clima de introspecção e tranquilidade, já que não tem nada mais calmante do que viajar de avião (sem turbulências e se você não for fóbico, é claro):

  1. Metronomy – Everything Goes My Way
  2. Owen Pallet – Lewis Takes Off His Shirt
  3. Washed Out – Eyes Be Closed
  4. Foals – 2 Trees
  5. Radiohead – How To Disappear Completely *

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* A canção do Radiohead é recomendada pra um momento mais específico, quando, em um vôo mais longo, todas as luzes se apagam e os passageiros dormem. Faz todo o sentido do mundo, acreditem.