Discos do ano – Trouble

Publicado originalmente em 04/12/2012 @ MyCool

Dezembro-sol-suor-e-bundas já está no ar e, como não poderia deixar de ser, chega aquele período da vida em que ninguém tem saco pra produzir mais nada, então nos limitamos às retrospectivas de tudo o que já aconteceu pra parecer que vivemos um ano muito importante e cheio de coisas ~excitantes~.

Também somos Maria-vai-com-as-outras [há quanto tempo não escutava essa hein?]  e entramos nessa onda, apresentando os discos mais tranzudos de 2012 na avaliação da casa. Alguns já foram resenhados por aqui, e no fim vamos juntar tudo em uma linda lista. Sigam-me os bons!

Pra começar a função, eu não poderia escolher outro disco. Trouble (POLYDOR, 2012), debute do Totally Enormous Extinct Dinosaurs, foi um disco razoavelmente bem aceito pelos críticos ao redor do planeta, conquistando respeito e um lugar ao sol. Não conseguiu um destaque maior porque se trata de uma obra de dance music, o que pra muita gente é taxado como “menos importante”. No meu S2, contudo, ele é o número um. O impacto que me causou se compara ao que os dois primeiros discos do Bloc Party fizeram comigo. Isto é, GIGANTESCAMENTE importante.

Consistente do início ao fim – como há muito tempo eu não via um disco ser –, não existem tracks medíocres, mas sim duas [sim, SÓ DUAS] dispensáveis. À exceção de Promisses e Shimmer, justamente primeira e terceira faixa, as músicas restantes não deixam a peteca cair em momento algum. E se a primeira metade é empolgante, a reta final – de Tapes & Money até Stronger – é o ápice da parada toda. Nada mal pra uma época em que 97% dos álbuns têm no máximo três ou quatro músicas realmente boas.

Como vinha martelando aqui desde 2011, o TEED era minha principal aposta na nova música – esperança essa que foi mais do que correspondida. Com uma identidade visual marcante, um conceito amplo bem trabalhado e uma música que mistura vertentes do house, techno, bass e synth pop revestidos por uma sensibilidade indie, nosso amigo Orlando Higginbottom conseguiu desenhar um resultado final bem autoral e que consegue ser tão brilhante quanto acessível. Isto talvez se justifique pelo foco em duas frentes: primeiro, o desafio de lutar contra a obsolescência da dance music – em que produtores lançam discos e faixas com data de validade marcada em seus encartes – e, em segundo, a forte presença de uma melodia bem trabalhada, outra carência presente na EDM atual.

Assim, Orlando conseguiu produzir uma obra marcante, dançante, profunda, bela e de forte apelo emocional, por mais despretensioso que seja o seu discurso. Porque pra alguém que diz que só quer que as pessoas se divirtam, o Totally Enormous Extinct Dinosaurs conseguiu muito mais do que isso.

Disco: Trouble

Artista: Totally Enormous Extinct Dinosaurs

Lançado em: 11 de junho de 2012

Selo: Polydor Records

Melhores faixas: Trouble, Household Goods, Your Love, Panpipes, Garden, Solo, Tapes & Money, American Dream pt. II, Closer, Fair, Stronger. É, na real, escuta o disco todo, vai!

Quando não ouvir: Antes de dormir.

Quando ouvir: Sempre.

Pra quem gosta de: Daft Punk, Disclosure, SBTRKT, Bag Raiders e Hot Chip

MyCool investiga: Azealia Banks vs. Munchi – o barraco

Publicado originalmente em 03/10/2012 @ MyCool

Seja pra ganhar mídia, fazer média ou ser escroto, os artistas adoram um barraco pelas redes sociais da vida. E como os fãs são chegados numa novela, esse tipo de embate costuma gerar bastante repercussão – sejam eles entre artistas do mainstream ou não.

A birra da vez corresponde à semana passada, quando a mais nova hype do rap Azealia Banks e sua equipe foram irresponsáveis, gerando uma polêmica gigantesca com o produtor holandês Munchi. A maioria dos blogs daqui não tocou no assunto, enquanto veículos da mídia internacional distorceram os fatos. Como o MyCool é pratcament um Jorge Kajuru da blogosfera – sem rabo preso e sempre de pinto duro –, fomos atrás da verdade.

O lance é o seguinte: todos os singles lançados pela Azealia até agora são raps em que ela canta sobre faixas instrumentais de outros produtores, sem edições. 212, por exemplo, é simplesmente a faixa Float My Boat, de Lazy Jay, com os vocais da garota.

As 19 tracks presentes na mixtape Fantasea também seguem essa lógica: o produtor Diplo ajudou a selecionar músicas de diversos outros caras para que Banks rapeasse por cima. Muita gente tem chamado isso de samplear, quando na verdade samples são determinadas partes de uma track utilizadas em prol de uma nova criação. Não é o caso.

Ainda assim, nenhum problema ético por enquanto; a mixtape não foi comercializada, enquanto os singles lançados por Banks tiveram autorização mais os devidos créditos e remuneração aos produtores originais.

O problema inicia quando começam divulgações para o lançamento de um novo single de Azealia: Esta Noche, track presente em Fantasea. Esta Noche foi produzida há uns dois anos por Munchi, que não a lançou comercialmente por respeito a Montell Jordan, de quem tirou samples – agora sim – para compô-la. Quando Azealia usou Esta Noche em Fantasea, não houve polêmica. No entanto, quando anunciada como novo single, pra ser comercializada no iTunes, inclusive com capa pronta e tudo o mais e SEM o consentimento de Munchi, o bicho começou a pegar.

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Munchi esperneou e não autorizou o lançamento. As gravadoras Polydor e Interscope, representantes de Banks, perceberam a cagada e tentaram negociar, oferecendo até 50 mil dólares e um pedido formal de desculpas. Munchi não aceitou, principalmente, pelo modo como a garota conduziu a situação, o culpando por emperrar o lançamento do single. O holandês permaneceu irredutível a qualquer proposta, alegando ter sido muito desrespeitado no episódio, e que sua integridade não estava à venda.

Bonito saber que no século XXI ainda tem artista que valoriza coisas como integridade e amor-próprio. O rapaz declarou que é normal no ramo as pessoas serem fodidas o tempo todo e não falarem nada por medo ou por grana, então é admirável também a sua coragem.

Quanto a Azealia, o som dela é bom pra caramba, o hype não é em vão e as tracks escolhidas pros seus raps são de alto nível. Porém, se revelou uma garotinha mimada e imatura [pra não dizer, como já foi dito, escrota]. Toda a estrutura milionária que gere sua carreira falhou, e o tiro saiu pela culatra. Porém, depois de algumas graninhas aqui e ali pra distorcer os fatos na mídia, Azealia e seu staff lançaram como single, no lugar de Esta Noche, Luxury – outra track de Fantasea, de autoria do produtor Machinedrum.

Assim, Munchi com seus valores, Azealia com o seu hype e Kajuru com seu pênis inabalável viveram felizes para sempre.

Moral da história:

* Para mais informações, leia o esclarecimento de Munchi aqui.