Porto Alegre e a música eletrônica: a importância do Festival Kino Beat

Publicado originalmente em 08/05/2014 @ deepbeep

Orquestra Vermelha

Por Flávio Lerner / Fotos: Claudio Etges

No Brasil dos últimos anos, tem sido notável uma crescente de ações voltadas à cena eletrônica independente – à música feita por DJs e produtores em seus computadores, synths e drum machines. Esse movimento, contudo, tem sido centralizado em São Paulo, com mais dificuldade de respingar em outros estados. No caso de Porto Alegre, além do mercado comercial, a música eletrônica vive através de eventuais iniciativas isoladas, no amor e na raça, sem constituir em uma cena que propulsione carreiras e público consistentes.

É por isso que o Festival Kino Beat, resultado da parceria entre o SESC RS e o projeto Kino Beat – concepção de 2009 do DJ e produtor cultural Gabriel Cevallos –, é um marco importante para a capital gaúcha. Depois de cinco anos trazendo artistas de relevância local, nacional e internacional para instituições de arte da cidade, o Kino Beat convergiu sua proposta – música eletrônica + inovação criativa + imagem em movimento – para um festival de fim de semana, no teatro do SESC. Como resultado, obteve-se, além da realização de um evento bem articulado, autossustentável e de lotação integral, um retorno do público que dificilmente poderia ser melhor. 

Público

A curadoria foi precisa, com destaque para o sábado, 26/04, bem como às ações periféricas. A festa de abertura, sediada no Clube Silêncio, na noite anterior, não recebeu tantos holofotes, mas contou com um time de DJs bastante coeso: DJ Claumon e seu elegante jazzy house, apresentações live do duo de rap Paradizzle e do DJ Rafael Chaves – que quebrou tudo com picotes de samples de músicas conhecidas, banhadas em groove e breakbeats – e fechou com o DJ Feijão, que nos levou de volta ao rap e ao funk dos 80’s. Interessante observar que o envolvimento de disc jockeys não se restringiu à festa: no teatro do SESC, os DJs Landosystem eKahara comandaram os warm-ups de sábado e domingo, colocando em destaque o valor da cultura DJ [e da cultura DJ local!] em um evento que prima pela dissociação da música eletrônica como “música de festa”.

DJ Landosystem

Já no festival propriamente dito, a abertura coube a Diego Abelardo, um dos potenciais grandes artistas que temos escondidos aqui no Sul. Com uma mistura de batidas sincopadas, jazz e música brasileira em contraponto a samples de frases históricas e poemas de autoria própria, o rapaz surpreendeu a ponto de ser aplaudido com gosto. O curioso é que esta foi a primeira exibição de Abelardo com seu projeto Agnostic Orchestra, cujo primeiro volume, Fragmentos do Oito, levara oito anos [!!!] de concepção. No entanto, para tocar ao vivo, Diego optou pela criação de um segundo volume – este desenhado em apenas um mês e ainda sem nenhum registro.

Diego Abelardo

Já a Orquestra Vermelha, projeto do paulistano Matheus Leston, foi a apresentação que, junto a de Fernando Velázquez, melhor representou o conceito Kino Beat. A Orquestra de Leston, diferentemente da de Abelardo, dá tanto destaque para o visual quanto para o áudio, a ponto de um não fazer sentido sem o outro. O artista, ao centro, acompanhado de oito músicos virtuosos que se revezavam em quatro diferentes telas de led, fez uma longa performance de encher os olhos, também recebendo aplausos efusivos [em pé!]. Pequeno detalhe: os oito músicos não estavam presentes, mas sim suas silhuetas, pré-gravadas, que tocavam junto ao paulistano – cada passagem representada por uma cor, ao fundo de cada tela. E se o som era, efetivamente, mais orgânico – via-se e ouvia-se baixo, contrabaixo, bateria, guitarras, pianos e vocais para apenas um pouquinho de beats e de teclado – a concepção era toda eletrônica, tendo a sua dinâmica constituída em loops. Estes loops, por sua vez, tornavam-se explícitos através da arte visual, que mostrava o movimento dos instrumentistas também dispostos em repetições de recorte e colagem.

Assim, ao final de sábado, saímos todos satisfeitos e enriquecidos, com a sensação de termos visto duas apresentações musicais bastante diferentes de qualquer show convencional. Aconteceram, sim, como é de praxe em festivais, alguns pequenos contratempos – em sua maioria, estruturais, como interferências no som e ruídos indesejados. A maior ressalva, porém, vai para o show do duo Opala, que abriu o domingo. Os cariocas Lucas Paiva e Luiza Jobim [acompanhados, naquele dia, pelo guitarrista Gabriel Guerra, ex-Dorgas] mostraram potencial, mas pouco comprometimento, errando bastante e aparentando certo despreparo no palco. Seus momentos mais lúcidos, curiosamente, foram as jams improvisadas.

Opala com Guerrinha na guitarra

O uruguaio Fernando Velázquez, contudo, fechou bem, lançando mão da performance mais desafiadora através do projeto Mindscapes, que representa as fronteiras do cérebro humano através de um caldeirão de house, tango, samba e ruídos, somado a recortes visuais de figuras abstratas, paisagens, metrópoles e frases de pensadores clássicos.

Fernando Velazquez

Velázquez ainda endossou, previamente, o que escrevo neste texto: discursou sobre a importância de eventos como este, que nos permitem usar o som e a imagem em novas e mais aventuradas expressões criativas, diferentemente da cultura audiovisual padrão imposta pela grande Indústria. Seria bobagem, portanto, focar no pouco que deu errado em detrimento ao tanto que deu certo. Foi o primeiro Kino Beat em formato de festival, e os erros aqui devem ser encarados como norte para aprimorá-lo ainda mais.

A vitória de iniciativas como essa, das quais carecemos tanto, passa longe de ser apenas uma vitória do Cevallos e do SESC. É uma vitória de todos que prezam pela música eletrônica e pela arte contemporânea em Porto Alegre; de quem quer ver a cidade e o país contextualizados com o resto do mundo; e, em última instância, é uma vitória da nossa vida cultural. Que tenha sido a primeira de muitas.

Rolling Stone e o reacionarismo roqueiro

Publicado originalmente [com edições externas] em 07/11/2013 @ Void

Se você estivesse em Chicago em 12 de julho de 1979, poderia adquirir ingressos para a partida entre os White Sox e os Detroit Tigers doando vinis de disco music. Articulada pelo radialista Steve Dahl, a inusitada promoção lotou o Comiskey Park não de fãs de baseball, mas de uma legião de roqueiros barbados reunidos em uma celebração do ódio e da intolerância. No intervalo do jogo, milhares de discos de um gênero musical nascido sob a premissa do amor – e concebido como grito libertário de negros e homossexuais – eram literalmente EXPLODIDOS para delírio da torcida de fanáticos: Disco sucks! Disco sucks! Disco sucks!

Em trinta e quatro anos, o videoclipe e a internet nasceram, ovelhas foram clonadas, negros e mulheres ganharam eleições, mas o exato mesmo discurso preconceituoso de Lobão Steve Dahl segue reverberando. A bola da vez é essa infeliz campanha da revista Rolling Stone que basicamente sintetiza a dance music como lixo desalmado e vê a cultura DJ como vazia e INFERIOR ao rock. Sim, em pleno 2013.

É uma mensagem fascista porque prega o ódio e a alienação, é maniqueísta porque divide estilos entre bons e maus, é preconceituosa porque generaliza e é intelectualmente desonesta porque ignora a história. Ignora que música eletrônica e a cultura DJ são dois universos particulares, gigantes, riquíssimos e mais velhos que nossas queridas avós; que o próprio rock’n’roll foi batizado e disseminado por um DJ; que essas barreiras estilísticas foram rompidas há décadas e que no mundo pós-moderno os gêneros flutuam, dialogam, se sampleiam mutuamente.

Todos os rótulos não passam de diferentes facetas da mesma moeda, delineações estéticas que muitas vezes só são assim constituídas para plastificar e vender. Mas não! Reaça não suporta aquilo que é diferente, então tapa o olho, polariza, instaura rixas imaginárias – como se arte se resumisse a, vejam só, uma rivalidade de baseball. Quem faz isso não entende que a música está aí pra enriquecer e agregar, não excluir. Aparentemente, são essas as pessoas que a Rolling Stone quer tocar.

Vai aqui um grande dedo do meio pra uma revista de cultura pop que presta um enorme desserviço cultural só pra polemizar e apelar aos rockers xiitas, arianos musicais. Porque o lamentável é que o rock – aquele próprio que quando surgiu desafiava o status quo e sofria o mesmo tipo de resistência – tenha migrado de símbolo máximo da contracultura para totem reacionário.

Daft Punk do dia feat. Chilly Gonzales

Publicado originalmente em 30/04/2013 @ MyCool

Não confundir com Speedy Gonzales.

Sim, os gajos da Vice até que tem razão em nos chamar de idiotas [embora o texto tenha sido escrito por um português, veja bem] por celebrar o hype tão visceralmente. E, realmente, somos todos um bando de ovelhinhas descerebradas comendo na mão de publicitários diabólicos. Mas nem por isso — e também pelo fato de que dificilmente algum disco novo do Daft Punk vá ser tão bom quanto o Discovery (Virgin, 2001) –, Get Lucky deixa de ser foda. Muito pelo contrário: o lado bom de ter um marketing e um hype tão pesado em cima deles é o fato de que a música no mainstream ganha muita qualidade em meio a tanto chorume. Claro, nós continuamos idiotas, mas idiotas com um gosto musical um pouco melhor!

E, carambolas, vejam essa série de colaboradores assando a brasa pro Daft Punk! Esses caras não precisam provar nada pra ninguém! Vou repetir o que já falei em outro desses posts sobre os franceses: vocês preferem estar de volta em 2012 hypando aquela mina palha que é SÓ marketing? Quer dizer, se é pra hypar alguém, que esse alguém seja o Daft Punk. Mas não acreditem em mim, acreditem no próprio Chilly Gonzales:

Pra ser honesto, eu não gosto muito de estar em colaborações. Mas você abre exceções pra pessoas que dispõem de algum tipo de chave pro Zeitgeist.

O som do futuro no país do futuro

Publicado originalmente em 06/03/2013 @ MyCool

Esqueça o que você acha que sabe sobre ‘baile funk’ e descubra o som do futuro do Brasil. É assim que começa um artigo da revista Spin postado ontem sobre o efervescente underground eletrônico ~brazzuca~.

Philip Sherburne, o autor do artigo, conta que recebeu por e-mail de Chico Dub – DJ e produtor cultural carioca, curador dos festivais Novas Frequências e Sónar SP – uma compilação de tracks interessantes de produtores novos, boa parte recém começando as primeiras composições, sem sequer vínculo com algum selo. Passeando por uma penca de vertentes, a coletânea – batizada por Chico de Hy Brazil Vol 1: Fresh Electronic Music From Brazil 2013  – traz artistas já destacados aqui no blogue como Psilosamples, Pazes e Strausz, nomes mais renomados como Leo Justi, Jaloo e Tropkillaz [projeto do DJ Zegon] e uma penca de gente nova e ainda desconhecida, como o paulistano Sants. Uma ótima pedida pra quem acha que o Brasil se resume a Naldos e Valescas.

Todas as tracks, à exceção da primeira, podem ser downloadeadas. Pra sacar mais detalhes e ler uma entrevista tranzuda com o Chico Dub – na qual ele enfatiza uma nova cena de produtores nacionais e a importância dos festivais de música avançada no Brasil – é só sacar o artigo na íntegra aqui.

O Malandro da Bulgária aterrissa na província

Publicado originalmente em 27/02/2013 @ MyCool

Acho que não é mais novidade pra ninguém que, de uns anos pra cá, nossa pequenina cidade de Porto Alegre tem recebido algumas atrações bem legais. A próxima delas atende pelo nome de Kosta Kostov [não confundir com Krusty Krustofsky], um DJ búlgaro erradicado na Alemanha que vem pra tocar na próxima edição da I Love Diskorock, a noite de dance music do Beco 203.

Kostov, também conhecido como o Malandro da Bulgária, tem um som bastante particular. Por ter sido criado na Bulgária, os sons tradicionais da cultura Balcânica são uma das maiores influencias do cara, sendo condensados com diversas vertentes da bass musichouse, electro, moombathon e até um pouquinho de baile funk –, assim como também agrega outras sonoridades étnicas, como música mediterrânea e afrobeats. Resumindo: temos um deliciozzo saladão de música eletrônica com world music.

O DJ, além de residente da rádio Global Player, é o mentor de algumas baladas na Europa. Entre elas, a Balkan Express, festa mensal que enfatiza o próprio som dos Balcãs. Esse vídeo aqui é bem didático:

Na tour brasileira – que começou em Recife e termina justamente em Porto Alegre – Kosta promete colocar a disposição toda a saladona de sons citada anteriormente, como pode ser ouvido nesse mix:

404

Como dá pra perceber, ele tem um forte relacionamento com o Brasil, tendo inclusive duas de suas próprias tracks remixadas pelos brazucas Marcelinho Da Lua e Chernobyl. Além disso, colabora frequentemente com artistas portugueses, o que faz com que nossa língua-mãe esteja sempre presente no trabalho do DJ.

Pra quem quiser sacar mais composições do ~Mallandro~, dá pra sacar os dois EPs lançados por ele na íntegra pelo Soundcloud.

A I Love Diskorock com Kosta Kostov rola nesse sábado, dia 02 de março. Completam o line-up os locais Schutz, Francis Bacon, Lucas Big e Flávio Lerner – não faço ideia de quem seja esse último.

A empreitada épica do Flight Facilities

Publicado originalmente em 31/01/2013 @ MyCool

Meu principal objetivo no MECA 2013 – realizado no último sábado em hotel fazenda em Xangri-Lá, como tínhamos anunciado aqui – era ver o DJ Set do duo australiano Flight Facilities. Com uma performance muito boa – tanto tecnicamente quanto em feeling e repertório –, saí de lá livre-leve-e-faceiro, com as expectativas correspondidas.

Eis que ontem, ainda no clima, resolvi ouvir um DJ Mix deles que tava na minha to do list desde o seu lançamento no Soundcloud, há uns 20 dias: a primeira parte do Flight Facilities for ‘triple j Mix Up Exclusives’. Quanto mais eu ouvia, mais perplexo eu ficava de QUÃO FODA era tudo aquilo – os caras tinham mixado com maestria um monte de coisa boa dos anos 70 [sendo boa parte versões originais!] com recortes de áudio de momentos históricos da época.

Dando uma lida no blog dos FF, deu pra sacar do que se trata: convidados pelo projeto da rádio australiana triple j – em que um artista apresenta nada mais nada menos que QUATRO DJ MIXES em UM MÊS –, os Flight Facilities mostraram que são nerds pra caramba e transformaram a limonada em um coquetel siciliano ciborgue devorador de rottweilers alemãos. Como?!, vocês perguntam. Muito simples, eu respondo: transformando cada mix em documentos históricos de dez anos, viajando de 1972 até 2012.

Pra entregar tudo isso no último outubro, foram necessárias horas e horas de pesquisa [com mais de 10 mil músicas ouvidas, segundo eles], criação de alguns edits pra poder encaixar melhor nas transições e mais horas e dias pra pesquisar os principais acontecimentos globais de cada ano. Feita a pesquisa, as mixagens das tracks seguem uma ORDEM CRONOLÓGICA – o que facilmente comprometeria um trabalho de fluidez e continuidade em um Mix, mas não, OS CARAS CONSEGUIRAM FAZER TUDO DESCER SUAVE –, com os recortes históricos aparecendo conforme o ano da música que está tocando [!!!]. Sim, um trabalho brutalmente obsessivo e genialmente psicopata.

O Mix acima é , portanto, a primeira parte dessa viagem épica pelo maravilhozzo mundo da música, de 1972 a 1982, começando com Stevie Wonder e terminando com Queen & David Bowie [clique aqui para ver o set list]. E sim, o projeto foi ao ar em outubro, mas só agora eles começaram a soltar no Soundcloud, então aguardamos as próximas partes com ansiedade. Podem deixar que postarei aqui assim que elas forem vazando!

* Momento chato-moralista-necessário: Uma cena não se constrói com o hype. Se você gostou do set do Flight Facilities no MECA, procure dar um pouco mais de atenção à sua própria região. Existem incontáveis DJs dedicados e com uma pegada parecida com a dos FF buscando um lugar ao sol perto de você, é só se antenar.

** Desconsidere o fato do Mix ter uma hora. Vai passar voando [RISOS].

*** A história toda com mais detalhes, fotos e etc. tá lá no blog dos caras.

**** Veja a continuação dessa saga: parte II | parte III | parte IV

Olelelê, olalalá, o MECA vem aí e o bicho vai pegá

Publicado originalmente em 04/01/2013 @ MyCool

Depois de taaaaanta chafurdação nos highlights de 2012, tá na hora de olhar pra frente. E pro verão escaldante gaúcho, os próximos dias antecipam a chegada da terceira edição do refrescante MECAFestival, o nosso pequeno Coachella dos pampas.

Como já cobrimos aqui desde a primeira edição, em 2011, o MECA é sucesso [via Bibo Nunes]. Os line ups sempre se preocuparam em ser relevantes atualmente, em trazer artistas fresh, e a corresponder aos fatores geográficos que o determinam – isto é, é um festival de verão, com artistas que casam com a summer breeze, sejam eles da música eletrônica, do rock ou de tUdO uM pOuCo. Suamos como nunca com as batidas frenéticas de Two Door Cinema Club e Vampire Weekend na praia de Atlântida [o que pra mim ainda soa surreal], assim como curtimos The Rapture [!!!], dançamos lindamente ao som de Mayer Hawthorne sob o luar e aos grooves espertos do set do Breakbot na Fazenda Pontal, entre tantos outros.

Pra 2013, no próximo dia 26, na mesma Fazenda Pontal, teremos Citizens!, Dragonette, Flight Facilities, Friends e Zulu Winter. À exceção do Dragonette, trio canadense com o maior apelo pop da escalação, todos são artistas com carreiras em ascensão, que se destacaram bastante na última temporada. O duo australiano Flight Facilities – meus favoritos – são os melhores representantes da tal vibe do verão; os Citizens! levam por trás o dedo de [sem piadas óbvias] ninguém mais ninguém menos que Sir Alex Kapranos; o Friends chegou a sair na lista de promessas da BBC; e o Zulu Winter foi elogiado por sites como o Guardian com menos de meio ano de vida.

A abertura ainda conta com o DJ e produtor inglês Dark Horse – com EPs lançados pelo selo DFA [do James Murphy] – e com o team brazuca: Holger, banda paulistana em alta total, Database, duo de destaque internacional, e as novidades gaúchas Tess e Dis Moi.

Os ingressos já estão à venda, o primeiro lote já esgotou, e recomendamos muito que vocês comprem e já planejem a viagem que sempre vale bastante – não somente pela qualidade de bons shows, mas pela experiência incrível de viver um festival de um nível e energia que até três anos atrás jamais sonharíamos em ter por aqui. Nós certamente iremos, veremos e venceremos.

                * Mais informações de utilidade pública vocês encontram na página do festival.

                ** Recomendo também o ótimo texto do Gustavo Brigatti, que saiu na Zero Hora uns dias atrás. Jornalismo de verdade, gente!

Follow Friday – The Other Tribe

Publicado originalmente em 21/12/2012 @ MyCool

Ahoy! Falo aqui diretamente do meu bunker subterrâneo AINDA esperando pelo tal do fim do mundo, cujos sinais pararam nas chuvas torrenciais, no calor apocalíptico e nas conquistas internacionais do Curintia.

Enquanto os Illuminatis, ou os extraterrestres – ou os Illuminatis extraterrestres – não executam the end of the world as we know it, trago mais uma aposta em banda nova se é que vocês ainda tem saco pra isso na última Follow Friday de 2012 [e quiçá da história da humanidade]: The Other Tribe.

Os caras são de Bristol, não fazem absolutamente nada de diferente – aquela coisa mezzo indie, mezzo house, às vezes raver, com percussão afro e vocais afeminados –, mas o fazem com competência suficiente pra te dar vontade de colocar no repeat. Além disso, foram eleitos A BANDA AO VIVO MAIS BONITA DA CIDADE, graças aos shows em que emulam um DJ set ao “mixar” todo o repertório.

Eles também se fantasiam a caráter – alô zeitgeist! – e são muito mais divertidos que aquela outra tribo que deixou o mundo inteiro na expectativa por milhares de anos e no fim era tudo balela. #FORAMAIAS

Discos do ano – fIN

Publicado originalmente em 18/12/2012 @ MyCool

Produzido pelo produtor catalão John Talabot – que se apresentou no Sonar SP em 2012 e cujo nome verdadeiro desconhecemos –, fIN (Permanent Vacation, 2012) se trata de um daqueles discos de uma música eletrônica não tão orientada para as dancefloors – mas que nada impede que possa gerar hinos das pistas, pelo menos pra quem estiver louco da pedra.

Talabot, como qualquer artista talentoso que não é empurrado mercadologicamente goela abaixo da blogosfera [cofcoflanadelreycofcof], teve sua ascensão de forma progressiva e natural, colhendo um burburinho ali em 2009, um hitzinho acolá em 2010, e atingindo um puta de um status agora em 2012 – tudo graças a fIN.

O som do debute do barcelonense – que, podes crer, tem influência direta do Mediterrâneo – namora a música eletrônica experimental/IDM, o ambient e até um pouco de psicodelia, mas também não deixa de flertar com a house music/balearic/disco, trazendo em vários momentos – principalmente nos “hits” Destiny, Last Land e When The Past Was Present – uma boa dose de groovezinho-ensolarado-legal-pra-lounge-ou-pra-abrir-uma-pista. Só que, se o house e a disco não raramente estão associados a elementos tropicais – praia, palmeiras, piscina, gente rica e mulher pelada –, o tropicalismo promovido por Talabot é mais sombrio, denso, carregado em textura. O que temos em fIN não é uma Riviera Francesa ou uma piscina de luxo em uma mansão na California, mas sim uma selva, que por vezes pode te levar a territórios ásperos e desconhecidos.

Tudo em fIN carrega a imagem pantanosa da selva e, como toda selva que se preze, pode parecer hostil ou desconfortável pros desavisados. Aos ~desbravadores~, porém, é um convite bastante tentador, principalmente pelo fato de ser uma obra muito bem delineada, com começo meio e fIN [RISOS]. A introdução de 7 minutos, Depak Ine, deixa os sinais bastante claros – inclusive escancarando o imaginário em questão através de sons de sapos, macacos, corujas e insetos. Temos, portanto, um dos registros mais coesos e interessantes de 2012 – pelo menos pra quem tiver “coragem” e “estrada”. Só vê se não me esquece do repelente pra insetos, de um kit de primeiros socorros e, se possível, do Indiana Jones pra desbravar a bagaça.

Disco: fIN

Artista: John Talabot

Lançado em: 14 de fevereiro de 2012

Selo: Permanent Vacation

Melhores faixas: Depak Ine, Destiny, Missing You, Last Land, Estiu, When the Past Was Present e So Will Be Now

Quando não ouvir: Na hora de ajeitar as pelanca na academia.

Quando ouvir: Bastante adequado pra momentos de introspecção no quarto, na rua e também pra pirar com teus amigos doidões.

Pra quem gosta de: Lone, Caribou/Daphni, Bonobo, Burial, Yeasayer e Delorean.

Discos do ano – Trouble

Publicado originalmente em 04/12/2012 @ MyCool

Dezembro-sol-suor-e-bundas já está no ar e, como não poderia deixar de ser, chega aquele período da vida em que ninguém tem saco pra produzir mais nada, então nos limitamos às retrospectivas de tudo o que já aconteceu pra parecer que vivemos um ano muito importante e cheio de coisas ~excitantes~.

Também somos Maria-vai-com-as-outras [há quanto tempo não escutava essa hein?]  e entramos nessa onda, apresentando os discos mais tranzudos de 2012 na avaliação da casa. Alguns já foram resenhados por aqui, e no fim vamos juntar tudo em uma linda lista. Sigam-me os bons!

Pra começar a função, eu não poderia escolher outro disco. Trouble (POLYDOR, 2012), debute do Totally Enormous Extinct Dinosaurs, foi um disco razoavelmente bem aceito pelos críticos ao redor do planeta, conquistando respeito e um lugar ao sol. Não conseguiu um destaque maior porque se trata de uma obra de dance music, o que pra muita gente é taxado como “menos importante”. No meu S2, contudo, ele é o número um. O impacto que me causou se compara ao que os dois primeiros discos do Bloc Party fizeram comigo. Isto é, GIGANTESCAMENTE importante.

Consistente do início ao fim – como há muito tempo eu não via um disco ser –, não existem tracks medíocres, mas sim duas [sim, SÓ DUAS] dispensáveis. À exceção de Promisses e Shimmer, justamente primeira e terceira faixa, as músicas restantes não deixam a peteca cair em momento algum. E se a primeira metade é empolgante, a reta final – de Tapes & Money até Stronger – é o ápice da parada toda. Nada mal pra uma época em que 97% dos álbuns têm no máximo três ou quatro músicas realmente boas.

Como vinha martelando aqui desde 2011, o TEED era minha principal aposta na nova música – esperança essa que foi mais do que correspondida. Com uma identidade visual marcante, um conceito amplo bem trabalhado e uma música que mistura vertentes do house, techno, bass e synth pop revestidos por uma sensibilidade indie, nosso amigo Orlando Higginbottom conseguiu desenhar um resultado final bem autoral e que consegue ser tão brilhante quanto acessível. Isto talvez se justifique pelo foco em duas frentes: primeiro, o desafio de lutar contra a obsolescência da dance music – em que produtores lançam discos e faixas com data de validade marcada em seus encartes – e, em segundo, a forte presença de uma melodia bem trabalhada, outra carência presente na EDM atual.

Assim, Orlando conseguiu produzir uma obra marcante, dançante, profunda, bela e de forte apelo emocional, por mais despretensioso que seja o seu discurso. Porque pra alguém que diz que só quer que as pessoas se divirtam, o Totally Enormous Extinct Dinosaurs conseguiu muito mais do que isso.

Disco: Trouble

Artista: Totally Enormous Extinct Dinosaurs

Lançado em: 11 de junho de 2012

Selo: Polydor Records

Melhores faixas: Trouble, Household Goods, Your Love, Panpipes, Garden, Solo, Tapes & Money, American Dream pt. II, Closer, Fair, Stronger. É, na real, escuta o disco todo, vai!

Quando não ouvir: Antes de dormir.

Quando ouvir: Sempre.

Pra quem gosta de: Daft Punk, Disclosure, SBTRKT, Bag Raiders e Hot Chip